Fonte Rede DLIS: Lutas e Conquistas Populares (2021)
Texto e Pesquisa: Adriano Paulino de Almeida
O QUE SOMOS
A Rede de Desenvolvimento Sustentável do Grande Bom Jardim (Rede DLIS do GBJ) é uma instância de articulações de lutas envolvendo entidades e movimentos da sociedade civil organizada do território e parceiros, demandando questões específicas de cada bairro, consensuando atuações no que diz respeito ao conjunto da região e da cidade.
Fonte: Carta Institucional da Rede DLIS/2013
O QUE SOMOS PARA MUITOS DE NÓS EM CITAÇÕES
Fonte: Grupo Focal Rede de Afetos, novembro de 2018.
“Fortalecimento das instituições do Grande Bom Jardim, unificando ações em busca do bem comum”. Fátima Carloto (Maninha), União dos Moradores do Bairro Canindezinho e Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza “A Rede DLIS é uma forma de reivindicação de direitos, junto aos nossos poderes públicos”. Regina Melo (tia Regina), Associação Projeto Paz “A Rede DLIS é uma sociedade de organização e de controle social das políticas públicas sociais, urbanas e afirmativas”.Pai Neto, Associação Espírita de Umbanda São Miguel “Rede DLIS é um intercâmbio da sociedade civil com o poder público, um espaço para discussão de novos caminhos, de melhorias para o bairro. É um modelo de união de pessoas em prol de algo grande, organizado, pensado, planejado, para o bem comum”. Valéria Pinheiro, moradora da Granja Portugal, professora, idealizadora do Núcleo de Ação Sócio-Educativo (NASE)“ A Rede DLIS para mim é muito importante, no momento em que se reanima junto às comunidades, em uma luta para conseguir algo. É reunir os moradores, eles ficam muito contentes. Por causa da luta pela ZEIS houve a conquista de duas moradoras da comunidade para o movimento, a dona Áurea e a dona Leda”.Dona Graça Tabosa, Associação dos Moradores Unidos do Parque São Vicente. “A Rede para mim é um movimento muito avançado”.Zélia Tabosa, Associação dos Moradores da Comunidade Marrocos “Significa a integração das forças, das lutas. Potencial criativo na garantia de direitos, no movimento pela vida”.Joice Luz, Espaço Geração Cidadão de Arte e Cultura “A Rede DLIS significa muito para mim. Eu entrei na Rede e tomei muito conhecimento de como podemos administrar uma associação com vários níveis de problemas, daqueles que sempre surgem na comunidade em que a gente vive na grande metrópole de Fortaleza, sempre quando tomamos conhecimento do problema queremos resolver”. Nícia Santos, Conselho Comunitário do Parque Santo Amaro. “A Rede DLIS pra mim é um instrumento de muita força e de visibilidade . É o caminho certo para se conseguir sucesso na luta desde que os componentes dessa Rede sejam humanitários e solidários, tenham pensamento coletivo, pois precisam abandonar o egoísmo. Isso sempre foi minha desavença na Rede”. Iolanda Lima, Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza “A Rede DLIS, para mim, é uma ideia de organização com visão à distância de transformação humanitária e de crescimento pessoal e coletivo de melhoria de qualidade de vida, através de luta, construindo história, luta por espaço pra morar, saúde, qualidade na educação, tudo isso só é possível com organização e afeto. DLIS é um círculo feito de gente. Só tenho a agradecer. Viva nossos sonhos”. Valnice de Freitas Lima, comunidade Parque São João, Siqueira. |
Portanto, a Rede é um construto inovador no âmbito das iniciativas de organização dos setores populares na cidade. Uma experiência de rede de movimentos, de organizações, no sentido de agenciar a representação de uma região, fortalecer a construção de uma identidade territorial comum, que deve ser assim considerada na construção e planejamento da cidade; em criar uma interação, comunicação e formação entre as organizações componentes. (CARLOS, 2014: 138).
Princípios e Valores que Orientam as Práticas da Rede DLIS
Fonte: Carta Institucional da Rede DLIS/2013
∙ Solidariedade: agir com base no respeito, na sensibilidade e no apoio às causas coletivas, sociais e comunitárias, no Grande Bom Jardim e outros territórios da cidade;
∙ Respeito à diversidade: fazer com que as diferenças não sejam empecilhos para o diálogo, para a construção de relações éticas, democráticas e para a participação social, independente de raça/etnia, gênero, orientação sexual, credo e opção partidária;
∙ Participação Democrática: exercitar constantemente o direito de participar das decisões políticas fundamentais que afetam nossa vida;
∙ Autonomia Política: Reconhecer-se como sujeito político frente a outros sujeitos políticos da cidade, seja no âmbito do Estado, seja na sociedade civil, reafirmando nossa autonomia na afirmação de nossas posições políticas em defesa dos direitos humanos;
∙ Transparência: estabelecer relações claras, públicas, tanto no processo político como no uso dos recursos;
MISSÃO da Rede DLIS:
Fonte: Carta Institucional da Rede DLIS/2013
Afirmar os direitos humanos como estratégia de luta por políticas públicas com participação popular para o desenvolvimento local.
Pacto Territorial e Rede
Olha o DLIS dá muito bom, o DLIS dá bom demais
Olha quem tá fora quer entrar e quem tá dentro não sai
Forrozão do DLIS
Comitê Popular Granja Portugal
Em dezembro de 2003, como ação integrante do Programa de Desenvolvimento Local, Integrado e Sustentável da Organização da Sociedade Civil (OSC) Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza (CDVHS), foi realizada a I Conferência em Direitos Humanos e Desenvolvimento Local, realizada, na Escola Municipal Florival Alves Seraine, no bairro Canindezinho. Este evento foi singular por promover um processo indutivo de construção e de afirmação do Pacto Territorial, através de uma Carta Compromisso, em que 32 entidades comunitárias locais assinaram o pacto territorial pelo desenvolvimento da Região e endossaram a criação da instância de articulação popular Rede de Desenvolvimento Local, Integrado e Sustentável (Rede DLIS), com finalidade de gerar as condições políticas de promoção sustentável do desenvolvimento integrado e local do território Grande Bom Jardim. O número de organizações locais signatárias da Carta Compromisso chegou a 93 em períodos subsequentes.
Desde a década de 90 que o Centro Herbert de Souza levanta a bandeira do Desenvolvimento Local. E dois dos fundamentos dessa lógica são: a afirmação de um território (de um lugar de onde se fala), e de uma territorialidade (poder de domínio sobre o espaço). A estratégia, então, foi constituir uma política de representação do território Grande Bom Jardim (GBJ) e uma articulação político-espacial do tecido associativo da região. Portanto, a esta última, as organizações reunidas denominaram como Rede de Desenvolvimento Local, Integrado e Sustentável do Grande Bom Jardim (Rede DLIS do GBJ).
Este processo pode ser reconstituído segundo este recorte temporal, como forma didática de organização das ideias:
Entre 1994 e 2002 foi implementado um movimento local de Construção Social do Território Grande Bom Jardim e de novos atores sociais em dois ciclos: O primeiro ciclo de 1997 a 1999, denominado Ciclo de Cidadania. E o segundo, de 2000 a 2002, compreendido como Ciclo Identidade Territorial e Social do Grande Bom Jardim, com potencialização de um conjunto estratégico de organizações sociais por bairro do território.
Assim, a partir de 2003, para a implementação do Pacto Territorial e de criação da Rede de Desenvolvimento Local, Integrado e Sustentável foram vivenciados quatro ciclos:
Ciclo 2003/2005 – geração das condições sociais, políticas, conceituais de criação sustentável do coletivo de articulação popular em desenvolvimento local do território Grande Bom Jardim, a Rede de Desenvolvimento Local, Integrado e Sustentável do Grande Bom Jardim (Rede DLIS do GBJ), a partir do projeto trienal “Um Futuro Mais Humano para o Brasil”;
2003 – parceria com a Universidade Estadual do Ceará (UECE), através do Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão Gestão Pùblica e Desenvolvimento Urbano (GPDU) e início da pesquisa socioparticipativa territorial; e implementação de um trabalho técnico de mobilização social territorial para a formação da Rede DLIS do GBJ;
2004 – realização de trabalho técnico de acompanhamento das organizações por bairro do território para a formação da Rede DLIS com lançamento e estudo comunitário orientado de pesquisa diagnóstico sócio-participativo do Grande Bom Jardim;
2005 – Elaboração objetiva da Política de Desenvolvimento Sustentável do Grande Bom Jardim, estruturada nos Planos Estruturantes de Desenvolvimento Local GBJ. Este é o documento mestre orientador da Rede DLIS. A Política de Desenvolvimento Sustentável do Grande Bom Jardim é a referência para a incidência política da Rede, através de um processo continuado de monitoramento, avaliação e sistematização.
O documento elaborado em 2005 tem visão de futuro de 20 anos, com olhar para 2025, e foi atualizado em 2015. A Política de Desenvolvimento Sustentável é avaliada e atualizada no evento Conferência de Desenvolvimento Sustentável do Grande Bom Jardim.
As Conferências e a Política do Desenvolvimento Sustentável do Grande Bom Jardim (2003, 2005, 2006 e 2015)
Em dezembro de 2003 foi realizada a I Conferência em Direitos Humanos e Desenvolvimento Local, realizada na Escola Municipal Florival Alves Seraine – Pacto pelo Desenvolvimento Local, Integrado e Sustentável do Grande Bom Jardim, evento em que 32 entidades comunitárias assinaram o pacto territorial pelo desenvolvimento da Região, através de uma Carta de Compromisso.
Nos dias 30 de novembro e 01 de dezembro de 2005 foi realizada a II Conferência de Desenvolvimento do Grande Bom Jardim, no CAIC Maria Alves Carioca, onde as 72 entidades da Rede de Desenvolvimento Local do Grande Bom Jardim – Rede DLIS, aprovaram a “Política de Desenvolvimento Sustentável do Grande Bom Jardim”, pretendendo-se assim em 20 (vinte) anos, ou seja, no ano 2025 ter a Região transformada num Jardim Residencial: um território socialmente construído, pertencente à bacia do rio Maranguapinho, localizado na área sudoeste de Fortaleza e integrado ao seu entorno metropolitano, com acesso a infra-estrutura, cultura, entretenimento, serviços públicos de qualidade e com uma economia local que dinamize múltiplas oportunidades de trabalho, emprego e renda, sendo protagonizado por moradores organizados e instituições públicas e privadas responsáveis pelo desenvolvimento local sustentável.
Nos dias 01 e 02 de dezembro de 2006 foi realizada a III Conferência de Desenvolvimento Local do Grande Bom Jardim – Desenvolvimento como Direito à Cidade, realizada na Escola Estadual Júlia Alves Pessoa, momento de monitoramento da Política de Desenvolvimento Sustentável do Grande Bom Jardim, observando a inclusão de suas propostas nos processos de planejamento oficial da cidade: Orçamento Participativo, Plano Diretor Participativo de Fortaleza – PDPFor e no Plano Plurianual. Foram contemplados debates acerca do empreendedorismo e lei da pequena empresa, como perspectiva do desenvolvimento econômico local.
Nos dias 26, 27 e 28 de junho de 2015 foi realizada a IV Conferência do Desenvolvimento do Grande Bom Jardim, com a temática da integralidade e afirmação dos direitos humanos, pelo direito à cidade com proteção integral a crianças, adolescentes e jovens. Antes, foi realizado um amplo processo de pré-conferências numa perspectiva de revisão geral da Política de Desenvolvimento Sustentável do Grande Bom Jardim, atualizando o documento através de um debate crítico sobre o Território que Temos e o Território que Queremos, agregando novas propostas ao documento do planejamento dos bairros. Foram incluídas ações prioritárias sobre crianças, adolescentes e jovens, observando o Plano Decenal dos Direitos Humanos de Criança e Adolescente, de 2011, o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo e o Plano Municipal de Atendimento Socioeducativo, numa parceria com Visão Mundial e Terre des Hommes. Dentre outras ações nesse campo das discussões prioritárias, foram realizadas, no dia 18 de maio, ações pelo Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Neste evento, a perspectiva patrimonial e museal foi incluída na programação, numa parceria com o Ponto de Memória do Grande Bom Jardim, com o lançamento da exposição Terra de Todos os Credos – Grande Bom Jardim: De Onde Viemos?, a palestra do poeta-museólogo-cientista-gestor Mário Chagas e a participação de representações dos Pontos de Memória Terra Firme (Belém, PA), Museu Mangue do Coque (Recife, PE), e Museu de Favela (Rio de Janeiro, RJ), com apoio do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM). Esta autarquia foi representada por consultor externo, ligado à Rede Cearense de Museus Comunitários.
CONCEPÇÃO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Em 2004, as instâncias articuladas e integradas ao coletivo Rede DLIS foram atravessadas pelo conceito de desenvolvimento sustentável formulado e transferido pelo filósofo, mestre em promoção do desenvolvimento, urbanismo e organização do espaço, doutor em sociologia, e professor associado dos Programas de Graduação e Pós Graduação em Desenvolvimento Urbano da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), entre 1976 e 2011, Luis de la Mora.
O conceito de desenvolvimento sustentável de Luis de la Mora foi acolhido e incorporado pela Rede DLIS, através da Política de Desenvolvimento Sustentável do Grande Bom Jardim.
O GRANDE BOM JARDIM QUE QUEREMOS
Queremos e planejamos o Grande Bom Jardim para o desenvolvimento sustentável, interferindo nos rumos do lugar e da cidade:
- “Ecologicamente equilibrado/ambientalmente sustentável
- Socialmente justo e includente
- Economicamente viável
- Juridicamente fundamentado
- Culturalmente diverso
- Tecnicamente competente e ético (transparente) e
- Politicamente democrático participativo”,
Luis De la Mora