Perfil Institucional – Ponto de Memória Grande Bom Jardim

O Ponto de Memória do Grande Bom Jardim é um dos 12 pontos pioneiros do Programa Pontos de Memória (PPM/IBRAM). Esta é uma iniciativa popular em memória social e museologia comunitária integrante da Rede de Desenvolvimento Local, Integrado e Sustentável (Rede DLIS), situada na periferia ao sudoeste da cidade de Fortaleza, Ceará, no território Grande Bom Jardim, situada à Avenida General Osório de Paiva, 5623, Canindezinho, 60.731-335, Fortaleza, Ceará.

O Ponto lança mão do patrimônio cultural, da memória social, da museologia comunitária e da linguagem como instrumentos políticos de afirmação do Território Grande Bom Jardim como lugar de direitos. A iniciativa busca desconstruir estigmas sociais e colaborar na centralização da narrativa dos moradores e das moradores nos espaços de formação das ideias e das tomadas de decisão sobre a gestão pública. 

O território GBJ é formado pelos bairros Bom Jardim, Canindezinho, Granja Lisboa, Granja Portugal e Siqueira, com uma população estimada de 225.210 habitantes, segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde de Fortaleza, quase 10% da população da capital, sendo 70% da população é negra, sendo 65% parda e 5% preta, aponta o IBGE. Com classificação de muito baixo, os cinco bairros estão no ranking dos 12 piores IDH-bairro da capital cearense. O território soma 877 óbitos pela Covid-19 (SMS em 21/02/24), o Grande Bom Jardim (GBJ) apresenta mais mortes pela doença que Sobral (780), Juazeiro do Norte (768), e Maracanaú (873), IntegraSUS, em 13.03.23.  Ou seja, se o Território GBJ fosse um município cearense, ele seria o terceiro em número de mortes pela doença, atrás somente da capital e de Caucaia. 

A experiência periférica e popular busca desenvolver processos continuados, comunitários, participativos de pesquisa de inventário do patrimônio cultural do território Grande Bom Jardim, concebendo e desenvolvendo projetos narrativos em suporte museológico, lançando mão da memória social, da museologia comunitária, da linguagem e do patrimônio como ferramentas políticas de empoderamento e de transformação social, situando o território, seu povo e suas narrativas no centro dos espaços de tomada de decisão tendo como lema “Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos. Sem memória não existimos. Sem responsabilidade talvez nem merecêssemos existir”. José Saramago.

O Grande Bom Jardim (GBJ) inseriu-se como agente protagonista e de forma coletiva em um dos mais importantes processos de regulamentação das diretrizes da Mesa de Santiago do Chile (1972), a construção e afirmação do Programa Pontos de Memória, pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), autarquia federal vinculada ao Ministério da Cultura. O PPM aproximou as comunidades periféricas do espaço de tomadas de decisão sobre a política nacional museal, sistematizou processos museais historicamente realizados por movimentos periféricos no Brasil e transferiu recursos diretos, conceitos e tecnologias sociais operantes às bases.

A política nacional em museologia social, por ser um ramo da cultura, sofreu diretamente o ataque da política austera do governo extremista fundamentalista brasileiro no período que vai de 2013 a 2022, desde as jornadas de junho (2013), passando pelo lawfare (Lava Jato) da justiça brasileira (2014-2018), cassação de Dilma (2016), prisão de Lula (2018), governo Temer (2016-2018) e governo Bolsonaro (2019-2022). Este ataque dispersou boa parte da sinergia social que constituía o tecido social e as relações entre as iniciativas em memória social e museologia comunitária, especialmente, as de primeira geração do Programa Pontos de Memória. Desde 2023 estamos empreendendo esforços para recompor os fios do tecido e rearticular, reanimar pessoas, instituições e processos. O Projeto Memoráveis faz-se instrumento político deste esforço. A ideia nasceu na pandemia. A última conversa interinstitucional entre os Pontos de Memória GBJ e Terra Firme, respectivamente, Adriano Almeida e Helena Quadros, foi a realização conjunta de um memorial de vítimas da Covid nos respectivos territórios.