Em 2009, o território, através da Rede de Desenvolvimento Local, Integrado e Sustentável do Grande Bom Jardim (Rede DLIS), coletivo de articulação popular de luta por direitos, criado em novembro de 2003, como um dos territórios de maior concentração de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI’s) do país, cujos bairros estão entre os 12 piores Índices de Desenvolvimento Humano da cidade de Fortaleza, foi mapeado pelo PRONASCI e pelo IBRAM para participar da I Teia da Memória, em 2009, na condição de pactuar parceria para a construção do Programa Pontos de Memória. Como já era projeto da Rede DLIS o trabalho de memória das ações do coletivo, o território aceitou o desafio posto.
Assim, no primeiro semestre de 2010 foram realizadas assembleias territoriais por bairro do Território para criar o Ponto de Memória através da composição participativa e territorial do Conselho Gestor do Ponto. Dia 26 de junho este processo foi finalizado.
No segundo semestre de 2010 e todo o ano de 2011, o CG dedicou atenção na elaboração do Plano de Trabalho do processo coordenado pelo Departamento de Museologia Social do IBRAM, na parceria com a Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) e indicação de técnico para celebrar contrato de agente técnico local para atuar como consultor técnico externo do Programa em parceria com a OEI.
Em fevereiro de 2012, todo o processo de planejamento e de formalização burocrática foi finalizado e o recurso transferido. Entre fevereiro e agosto do ano de 2012 o consultor técnico externo Adriano Almeida, na anuência e acompanhamento pelo CG, executou o plano de trabalho, com processo de composição e formação de pesquisadores populares, com transferência de tecnologias pela Rede Cearense de Museologia Comunitária, criação e desenvolvimento de metodologia baseada no Inventário Nacional do Patrimônio Cultural (INRC), produção de projeto museográfico, lançamento da exposição “Jardim das Memórias” e inauguração do Ponto de Memória do Grande Bom Jardim, dia 31 de agosto de 2012.
Por estas razões, tanto os Pontos de Memória periféricos em todo o Brasil, assim como a principal metodologia decorrente, os processos continuados participativos e comunitários de inventário dos patrimônios locais, as rodas de memória e os processos museais comunitários e territoriais se constituem tecnologias sociais inovadoras e potentes a serviço das bases para promover e fortalecer as sua lutas sociais por autoafirmação e por direitos sociais.
Também foram agentes sociais protagonistas pró-ativos e receberam apoio do PPM outros 11 Pontos de Memória de comunidades periféricas pelo Brasil: Terra Firme (Belém, PA); Coque (Recife, PE); Jacintinho (Maceió, AL), Beiru (Salvador, BA); Taquaril (BH, MG); MUF (Rio, RJ); Brasilândia (São Paulo, SP); Sítio Cercado (Curitiba, PR); Lomba do Pinheiro (Porto Alegre, RS), Estrutural (Brasília, DF).
O Ponto de Memória GBJ foi eleito, em 2014, representante dos Pontos de Memória Pioneiros no Comitê Consultivo do Programa Pontos de Memória, conforme portaria nº 385, de 9 de novembro de 2017, decisão tomada na Teia de Belém, PA. Contribuiu para a legitimação da política de Estado da política nacional em memória social e museologia comunitária, materializada nas portarias nos- 315, de 06 de Setembro de 2017 e 301, de 9 de setembro de 2019, que dispõem, respectivamente, sobre a institucionalização do Programa Pontos de Memória e a criação do Comitê Consultivo do Programa Pontos de Memória.
Assim como a política nacional de cultura e museal foram abaladas pelo avanço do projeto neoliberal ultraconservador em curso no país desde a jornada de junho de 2013, estrutura consumada no golpe parlamentar, midiático e judiciário de 2016 e na eleição da extrema direita em 2018, a iniciativa em memória social e museologia comunitária do Grande Bom Jardim também foi abalada. Passamos desde 2018 por um processo político depressivo. Em termos de política de fomento, as últimas gestões da política de cultura de Fortaleza foram um fracasso e retrocesso.
Neste período, foram as políticas da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará e a parceria com o Grupo de Extensão Diálogos, da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (UNILAB) que deram alento e amparo para não parar por completo. E as grandes crises articuladas institucional, política, socioeconômica e sanitária contribuíram e muito para desmobilizar os processos e focar na garantia da sobrevivência física dos corpos.
Esta é a síntese da nosso cronograma de trabalho:
Em 2009, fomos acionados e mobilizados pelo IBRAM e Pronasci para participar da 1ª Teia da Memória, em Salvador, e fomos convidados para participar do processo de construção da política nacional Programa Pontos de Memória (PPM/IBRAM);
Em 2010 realizamos um amplo processo territorial de mobilização com realização de 05 assembleias comunitárias em cada um dos 05 bairros do Grande Bom Jardim para a criação e composição do Conselho gestor Participativo Comunitário do Ponto de Memória do Grande Bom Jardim;
Em 2011 elaboramos de forma coletiva, comunitária e participativa o projeto de inventário participativo territorial e consecução do primeiro projeto expográfico e lançamento do Ponto de Memória, numa parceria IBRAM e OEI;
Em 2012, execução do plano de trabalho com inauguração do ponto e da exposição “Jardim das Memórias, dia 31 de agosto de 2012;
Projetos elaborados, captados e desenvolvidos:
Fortalecimento de Experiência Comunitária em Memória Social e Museologia Comunitária: Grande Bom Jardim, edital de seleção pública, 9/2012 Prêmio Pontos de Memória IBRAM/MinC;
Projeto de publicação da cartilha didático-pedagógica em patrimônio cultural “Vivências da Memória – Vozes da Periferia GRANDE BOM JARDIM, 2014;
Plano de Ação do Inventário Participativo do Patrimônio Cultural do Grande Bom Jardim, IBRAM/OEI 2012;
Cirandas Comunitárias da Memória: Grande Bom Jardim (2014);
Projeto de extensão UNILAB Inventariando memórias de lideranças populares em periferias urbanas: uma experiência participativa no Grande Bom Jardim (2019);
Quem é Esse? Chamada pública INESC para a Reforma do Sistema Político, Plataforma Direitos Humanos (2019);
Projeto Enfrentamento à Covid-19 GBJ seleção em edital de chamamento público Iniciativas Comunitárias CCBJ/IDM/SECULT (2020);
Projeto de extensão e tecnologia social UNILAB Rodas de Memória como Tecnologias Sociais (2022);
Projeto 10 ANOS seleção em edital de chamamento público Iniciativas Comunitárias do CCBJ/IDM/SECULT (2022);
Em dezembro de 2022, conseguimos o título de Mestre da Cultura Cearense, Lei Tesouro Vivo, para um dos conselheiros e fundadores do Ponto de Memória do Grande Bom Jardim, o zelador de santo da Umbanda, tambor de Mina, do Maranhão, pai Neto Tranca Rua, Miguel Ferreira Neto Governo do Ceará realiza diplomação dos novos Tesouros Vivos da Cultura do Ceará ;
Em 11 de fevereiro de 2023, em parceria com Museu de Arte Contemporânea, SECULT CE, gerido pelo Instituto Dragão do Mar, participamos do projeto de formação DE-CURADORIA CE, sendo um dos pontos de residência de cursistas;
Projetos expográficos realizados:
Jardim das Memórias (2012);
Terra de Todos os Credos: Grande Bom Jardim – De Onde Viemos? (2015);
Rede DLIS: Lutas e Resistências (2018).