Fortaleza, além da elevada concentração de renda e desigualdade social, tem a maior densidade demográfica entre as capitais do país, com 8.390,76 hab/km2. O Território Grande Bom Jardim (GBJ) situa-se ao sudoeste da cidade, formado pelos bairros Bom Jardim, Canindezinho, Granja Lisboa, Granja Portugal e Siqueira. Com uma população estimada em 225.210 habitantes (PMF), sendo 65% parda (137.529) e 5% negra (11.070) (IBGE 2010), seus cinco bairros estão situados no ranking dos piores IDH-Bairro da cidade: Bom Jardim (0,19), Canindezinho (0,14), Granja Lisboa (0,17), Granja Portugal (0,19), Siqueira (0,15) (Anuário do Ceará 2019-2020).
Além de lócus de várias epidemias, o GBJ é acometido por ataques das variantes do Sars Cov2, com severos clusters de casos e de mortes pela Covid-19. O Território, com 17.929 casos confirmados da doença, contabiliza 877 mortes acumuladas, entre 2020 e 2024, quase 8% do total de óbitos da capital, conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza (SMS). Em 2020, foram registradas 427 mortes pela Covid-19 no território; em 2021, 399 mortes pela doença; em 2022 foram somadas 47 vidas perdidas; em 2023 foram registradas 04 mortes. Óbitos acumulados por bairro do GBJ: Bom Jardim (174); Canindezinho (139); Granja Lisboa (236); Granja Portugal (185); Siqueira (143), segundo dados da SMS.
Mesmo com o surto epidêmico apresentando certa estabilidade desde fevereiro de 2022, as mortes causadas pelas complicações da Covid-19 continuaram em platô elevado naquele período. A taxa de letalidade do GBJ é de 4,9, sendo 58% maior que a de Fortaleza, que tem 3,0. A taxa de mortalidade é de 389. Em Fortaleza são registrados 12.018 óbitos acumulados da doença.
Assim, o GBJ vivenciou-se um cenário de desastre sanitário. Caso este fosse um município, ele seria o terceiro em número de óbitos no Estado, com 877 mortes acumuladas (SMS – 21/02/24). O GBJ supera Juazeiro do Norte (753) e Sobral (776) em número de óbitos acumulados desde o início da pandemia, segundo dados da SMS, boletim epidemiológico de 12 de agosto de 2022, e IntegraSUS.
Nesse contexto, o território periférico se organizou em comitê de vigilância popular em saúde coletiva, denominado Comitê Popular de Enfrentamento à Covid-19 no Grande Bom Jardim e demais Periferias de Fortaleza, para enfrentamento à pandemia e exigibilidade de políticas sanitárias contextualizadas às periferias da cidade, articulando ciência, participação da comunidade local, de gestores e de parlamentares, municipal estadual e federal, estabelecendo intercâmbio com outras experiências nacionais em vigilância popular em saúde coletiva no contexto da pandemia, promovendo o engajamento cívico. Toda essa engenharia política só foi viável dado o forte capital social do tecido social local, fruto da atuação do coletivo territorial de articulação popular de luta por direitos, denominado Rede de Desenvolvimento Local, Integrado e Sustentável do Grande Bom Jardim (Rede DLIS), existente e atuante há 21 anos no Território.
Comitê Popular de Enfrentamento à Covid-19 do Grande Bom Jardim e demais Periferias de Fortaleza, CE.
O Comitê Popular de Enfrentamento à Covid19 de Fortaleza é uma iniciativa popular-comunitária territorial de vigilância popular em saúde coletiva na pandemia, constituída em abril de 2020 e atuante até final de 2022, com a finalidade de pautar as periferias da cidade na agenda epidemiológica municipal de enfrentamento à pandemia, constituindo espaço político de diálogos e de tomadas de decisão, reunindo a sociedade civil e a sociedade política, em ambiente virtual, fazendo acompanhamento da situação epidemiológica, sistematizando dados sanitários, produzindo e difundindo conteúdos, realizando pesquisa científica acerca da situação epidemiológica do Território, realizando o controle social acerca das políticas de testagem e de vacinação.